"O que é meu está guardado"
Entrevista: Juliana Felisberta SilvaJogadora de vôlei de praia
TED SARTORI
Juliana é, acima de tudo, uma forte. Parafrasear a famosa frase de Euclides da Cunha, de seu livro Os Sertões, não é exagero. A jogadora santista de vôlei de praia está prestes a voltar aos treinamentos fortes com bola, ao lado da parceira Larissa, depois da lesão no joelho direito, que a tirou da Olimpíada de Pequim Ana Paula foi a substituta. E não se entregou em nenhum momento. Londres? Bem, um passo de cada vez. "Vou pensar ano a ano e batalha por batalha", sentenciou. É a Guerra de Canudos particular de Juliana.
Nessa volta aos treinos, muita saudade da areia e da bola de vôlei, depois de tanto tempo no Departamento Médico?
Pois é, praticamente seis meses, mas ainda não é treino mesmo. Pode-se dizer que é como se fosse uma recreação para criança. Ainda estou começando a dar meus primeiros passos. Na realidade, foi meu primeiro contato com a bola. Nada de treino forte ou saltos. Nada disso. Deram apenas o doce para a criança, para que eu realmente tivesse contato com a bola.
Como foi esse primeiro contato?
Infelizmente já passei por isso uma vez, seis anos atrás, em uma lesão exatamente igual, só que no joelho esquerdo. Então, a chance de poder voltar lentamente a fazer algo que eu fazia e gosto, é uma satisfação, assim como é estar perto de todos da equipe. Todos querendo acabar o treino e eu querendo mais um pouquinho. Pediram calma porque eu vou treinar muito ainda neste ano.
E os treinos com a Larissa? Quando recomeçam?
Acho que lá pelo dia 20, daqui a uma semana. É para que eu possa ter um pouco mais de confiança.
Como não foi a primeira vez, encarar a recuperação foi menos doloroso?
A primeira vez a gente nunca esquece. A gente fica mais cautelosa, com mais medo. Agora eu sei até onde posso ir: quando eu sentir dor, dou uma parada, mas graças a Deus não está acontecendo isso agora.
Nesses seis meses de recuperação, houve um momento em que você ficou desestimulada?
O primeiro mês é horrível. Você não anda direito e sente muita dor. E ainda coincidiu com o período da Olimpíada. Considero um estado como se fosse uma grávida: tudo que se faz, fica vulnerável, com os sentimentos à flor da pele. No segundo mês que você começa a andar, parece que se nasce de novo, querendo fazer tudo que o fazia antes.
Claro que havia a sua torcida pes- soal pela Larissa e a Ana Paula, que entrou em seu lugar, mas ficava aquela sensação de que era você que tinha de estar lá e não a Ana Paula?
Eu sou muito consciente. Nada acontece por acaso. Se havia alguém no meu lugar, é porque não era a minha vez. Sou paciente em esperar. Ninguém mais do que eu merecia estar lá, mas o que é meu está guardado e é o que me conforta.
A volta lenta aos treinos também coincide com o início do ciclo olímpico para Londres. Já está pensando nisso?
Realmente penso em 2012, mas quero primeiramente voltar a fazer com qualidade o que eu fazia e a ganhar novamente. Vou pensar ano a ano e batalha por batalha. Lógico que há um objetivo lá na frente, mas não vou querer atropelar as coisas.
FUTURO
Desde os 18 anos em Fortaleza (antes, passou por Natal, terra-natal dos pais, por uma década), Juliana sente saudades de parte da família que ainda reside em Santos (duas irmãs e três tios ainda moram) e de outras particularidades. "Eu adoro a Cidade. Posso andar pelos canais, comer pastel e tomar caldo de cana. Me sinto bem. Como Santos tem a melhor qualidade de vida para pessoas da terceira idade, quem sabe eu não possa ir velhinha para aí", comentou.